Filosofia educacional subjacente às metodologias adotadas na Educação Domiciliar- Parte 1

Foto livro

As metodologias de ensino já são velhas conhecidas para aqueles que praticam educação domiciliar. Nesse post, gostaria de me aprofundar um pouquinho mais sobre quais as filosofias educacionais modernas que sustentam as várias metodologias adotadas pelos que educam em casa (e na escola também). Estou estudando um excelente livro do autor Robert W. Pazmiño, intitulado Temas Fundamentais da Educação Cristã, da Editora Cultura Cristã. Foi publicado primeiramente em 1997 e aqui no Brasil em 2008. O livro aborda a Educação Cristã na escola e na igreja, então o discurso do autor é voltado para as instituições escola e igreja,

O autor destaca as seguintes filosofias educacionais: perenialismo, essencialismo, comportamentismo, progressivismo, reconstrucionismo, naturalismo romântico e existencialismo. Transcrevo quase literalmente uma breve explicação sobre cada uma delas, suas vantagens e desvantagens sob o crivo das Escrituras. Veja se você consegue reconhecer qual é  o seu embasamento filosófico. A partir daí, aprofunde-se no estudo a fim de se aperfeiçoar na prática de seu homeschooling.

PERENIALISMO

Enfatiza o cultivo dos poderes de raciocínio junto com a excelência acadêmica. Afirma o propósito intelectual, espiritual e ético na educação ao guiar o indivíduo às verdades eternas. Os alvos incluem a transmissão e a assimilação de um corpo prescrito de matérias clássicas. Os defensores dessa filosofia incluem Aristóteles, Tomás de Aquino, e mais recentemente , Robert Hutchins, Mortimer Adler, Allan Bloom e Jacques Maritain. O conteúdo desse tipo de educação inclui os grandes livros do mundo ocidental, os clássicos e as artes liberais tradicionais. A mente e a razão são enfatizadas na exposição dos estudantes às grandes obras do passado intelectual ocidental. O currículo é centrado na matéria ou assunto estudado, enfatizando a disciplina mental e análise literária. O professor é um acadêmico, filósofo por excelência, que tem amplo conhecimento de vastas áreas do saber. Correspondendo ao papel do professor, o aluno é visto como ser racional que deverá ser guiado pelos primeiros princípios conforme revelados nos clássicos e nas artes liberais. Os principais ambientes de aprendizado são a sala de aula ou salão de palestras, o lugar de estudo e a biblioteca, onde a herança clássica pode ser compartilhada ou adquirida por meio de um estudo diligente. O perenialismo pode ser elogiado pela sua sensibilidade para com o passado, sua preocupação com a racionalidade e sua ênfase na excelência. Esta filosofia propõe que existe verdade absoluta e que a natureza humana é coerente. O perenialista reconhece os propósitos intelectuais, espirituais e éticos da educação. Pode ser criticado por sua preocupação com o passado e com sua tendência racionalista. Sua uniformidade curricular pode abafar a criatividade e sua abordagem intelectual, dirigida pelo professor, pode não reconhecer o caráter das pessoas e os limites da razão humana.

ESSSENCIALISMO

O educador essencialista enfatiza a excelência acadêmica, o cultivo do intelecto e a transmissão e assimilação de um corpo prescrito de matéria a ser estudada. O discernimento das verdades a partir desta perspectiva é possibilitado pelo uso de cuidadosa observação e da razão. Os principais defensores dessa posição são Arthur Bestor, e Admiral Hyman G. Rickover. Para o essencialismo, o conteúdo da educação inclui as disciplinas acadêmicas fundamentais e a maestria de conhecimentos básicos e avançados. Diferente do perenialismo, o essencialismo considera essencial a ciência moderna e a indagação experimental, além dos estudos clássicos. O essencialismo sinaliza um movimento educativo que volta ao que é básico e acrescenta à dominação desses básicos amplamente definidos para incluir uma variedade de matérias de estudo. O professor modelo é a pessoa de letras e ciências que está sintonizada com o mundo moderno e alcançou o nível de especialista em sua área de competência. O estudante é visto como ser racional que obtém domínio dos fatos e habilidades essenciais que sustentam as disciplinas intelectuais para ajustar-se ao ambiente físico e social.  Como o perenialismo, o essencialismo está centrado principalmente na sala de aula e na biblioteca, mas também enfatiza o laboratório de pesquisa. Os estudantes obtêm acesso à ampla gama de disciplinas acadêmicas por meio de estudo nesses ambientes. O essencialismo pode ser recomendado por sua ênfase no domínio de habilidades básicas de aprendizado e seu reconhecimento da necessidade de trabalho árduo e disciplina no aprendizado. Esta filosofia reconhece também os propósitos intelectuais, espirituais e éticos na educação. Mas diferente do perenialismo, o essencialismo não é totalmente intelectual com maior preocupação pelo ajustamento individual ao ambiente físico e social. Podem ser ressaltadas críticas quanto ao seu direcionamento pelo professor e sua possível tendência ao racionalismo. Pode levar ao exclusivismo se as necessidades das pessoas especiais forem ignoradas no compartilhar exposição a campos mais amplos de conhecimento que talvez não estejam relacionados à experiência pessoal ou do grupo.

Continua no próximo post…

Publicidade

4 comentários sobre “Filosofia educacional subjacente às metodologias adotadas na Educação Domiciliar- Parte 1

  1. Olá, Renata.
    Bom texto. Permita-me, porém, algumas observações.
    Lendo a parte que vc descreve o perenialismo, tenho as seguintes dúvidas.
    1) em que sentido o autor emprega o termo racionalismo? Seria no sentido moderno, proposto pelo império das luzes? Caso o seja, então como conciliar isso com o cristianismo, pois ambos são naturalmente antagônicos.

    2) veja-se esse fragmento: “Pode ser criticado por sua preocupação com o passado e com sua tendência racionalista.” A que passado se refere? O clássico e medieval ou a um conservadorismo em geral?

    3) o que seria essa tal de ‘uniformidade curricular?

    Pra concluir: tanto sobre o perenialismo quanto sobre o essencialismo, o texto não menciona o método prático de aprendizagem usado em ambos. É isso.

    Curtir

    • Olá Adilson.
      obrigada pelas observações, são sempre bem vindas. Como eu praticamente transcrevi um trecho do livro, é claro que dúvidas como a suas poderiam surgir, já esse capítulo está após uma longa introdução sobre a Educação Cristã. Responderei de uma forma bastante sucinta, mas espero que consiga tirar a “pulga detrás da orelha” rs.
      1) O autor emprega o racionalismo não no sentido histórico em que a razão e o antropocentrismo passaram a resgatar a humanidade do chamado período de trevas, ne também da qual derivaram filosofias perigosas e incompatíveis com nossa fé, como é o humanismo. Ele usa o racionalismo no sentido da utilização de um raciocínio apurado, da eleição de disciplinas mentais como lógica, por exemplo.
      2) Quanto a segunda pergunta, o autor não é claro`a que “passado”, mas acredito que refere-se ao possível perigo dos perenialistas se ligarem fortemente ao passado medieval e clássico em detrimento ao passado judaico-cristão. Lógico que não acontece a todos os perenialistas, mas é um acontecimento bastante presente nessa linha.
      3) Outra vez o autor não deixa claro, mas compreendo que a uniformização curricular está muito ligada ao que foi mencionado na questão anterior. Ou seja, se o perenialista se liga fortemente à época medieval e ao período clássico, como modelos primordiais, certamente seu currículo estará de certa forma pautado nas disciplinas clássicas. Talvez o que o autor denomine de “uniformidade de currículo” seja melhor compreendido quando apresentar as demais correntes filosóficas em que há poucas diretrizes para o currículo, ou mesmo a inexistência de um currículo.
      E finalmente, você tem razão, não há uma associação clara sobre a prática, o autor realmente não o faz. Na verdade, o meu plano era de que as pessoas que estivessem lendo as filosofias, refletissem um pouquinho (como você) e identificassem a sua metodologia(s) sem que eu entregasse o prato pronto! No meu planejamento, ao final dessa série, eu iria apresentar a ligação das metodologias com as filosofias. Mas, para adiantar, podemos observar por exemplo, que a Educação Clássica se encontra dentro do Perenialismo, e que uma Educação Clássica mais elástica, se encontra dentro do Essencialismo.
      Muito obrigada por participar de modo tão ativo da leitura. Se todos fossem iguais a você, certamente teríamos uma mudança grande na educação!

      Curtido por 1 pessoa

  2. Pingback: Filosofia educacional subjacente às metodologias adotadas na Educação Domiciliar- Parte 3 | Educação Domiciliar

  3. Pingback: Filosofia educacional subjacente às metodologias adotadas na Educação Domiciliar- Parte 1 – Educação Domiciliar

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s